Sinopse
Representar o ar, ou seja, representar aquilo que não se vê, é, talvez desde tempos de que
já não nos lembramos, uma das aspirações da prática artística. O ar é matéria e meio. É
matéria (vital) sem estrutura, sopro sem corpo. É um meio: transporta coisas, engendra
ideias, faz-se respirar. A tentação do ar é também uma aspiração ao voo, uma fuga ao peso,
a superação da gravidade. Subir acima do horizonte para ver mais e melhor. Se pensarmos
bem, o ar é aquilo que nos liga - na mais integral aceção da palavra ligação - aos corpos,
às coisas, aos objetos em geral. À ínfima camada de ar, impalpável e imperscrutável, que
envolve um objeto, de arte ou não, chamamos aura. Trata-se de uma qualidade inexplicável
que algumas coisas transportam e que as transforma em objetos de desejo, em coisas amadas
e contempladas. No CIAJG os objetos atravessam o tempo e cruzam fronteiras para
estabelecerem encontros cujo sentido é mais ou menos evidente, mais ou menos visível.
[Nuno Faria]
Catálogo publicado por ocasião da exposição «A Composição do Ar - Coleção permanente e
outras obras», apresentada na Plataforma das Artes e da Criatividade / CIAJG, Guimarães,
de 26 de julho a 12 de outubro de 2014.
O CIAJG reúne peças oriundas de diferentes épocas, lugares e contextos em articulação com
obras de artistas contemporâneos. Ao longo de um percurso pelas oito salas que constituem
o piso 1 do edifício, os visitantes poderão rever alguns dos ex-libris das coleções, mas
também descobrir novas peças que integram as constelações de objetos e imagens organizadas
a partir de tipologias como: arcaico/contemporâneo; acontecimento/história;
estranho/familiar; erudito/popular; material/imaterial.