Livro fragmentário, há quem o veja como um todo, outros lêem-no como uma história, uma narrativa das (im)possibilidades do narrador que nunca enumera verdades nem se nomeia. Marcado por cumplicidades na procura do outro, não encontra no outro relações iguais, ou mesmo identificáveis. Estamos sempre perante a possibilidade e não o real. A loucura do dia é marcada pelo narrador que observa um carro de bebé e a sua mãe a passar a porta, se fere a si próprio com facas e bocados de vidro e se observa, vê o passar do dia à noite e a noite ao dia e reflecte as suas consequências. A loucura do dia dá-nos um narrador que recusa a narrativa, vida sem fragmentos, e conta-nos assim uma história sem fio nem consolo de um qualquer final.
Tradução de Diogo Vítor e design de Pedro Simões.
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Maurice Blanchot
Maurice Blanchot (1907-2003) é considerado um dos mais inovadores e prestigiados escritores, críticos e filósofos do século XX francês.
Admirado por Sartre, Foucault, Levinas, Camus, Derrida ou Jean-Luc Nancy, entre muitos outros, Blanchot foi provavelmente um dos escritores mais inovadores e originais do século XX.
Os seus textos são geralmente desafios filosóficos criados por via da linguagem: é possível existir um sujeito neutro? Nesse caso, é possível existir uma narrativa conduzida por um personagem neutro?
Pouco se sabe sobre a vida sempre meticulosamente resguardada do autor. Estudou em Estrasburgo, onde conheceu Levinas e de quem se tornou amigo para a vida. Este último introduziu-o na obra de Heidegger, que marcou o início de um percurso intelectual para o autor. Nos tempos de juventude, envolveu-se nas grandes discussões políticas e intelectuais do seu tempo.
Nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, as ideias políticas de Blanchot aproximam-no da extrema-direita mas, ao mesmo tempo, e durante a ocupação, salva imensos intelectuais de ascendência judaica da deportação, facto que, em 1944, o leva ao acontecimento que viria a mudar a sua vida, como confessou, pela primeira vez, 50 anos mais tarde: Blanchot foi levado perante um pelotão de fuzilamento nazi, que, por casualidade, falhou a sua execução.
Mais tarde, após o doutoramento na Sorbonne, Blanchot deu origem à maior parte das grandes discussões intelectuais do seu tempo por via dos artigos e da obra ensaística e literária que escreveu – Sartre disse, a propósito, que Blanchot era o crítico mais importante da actualidade, no que foi secundado por Foucault.
Blanchot publicou dezenas de obras divididas entre a ficção, o ensaísmo e a crítica. Toda a sua vida recusou prémios e distinções, bem como entrevistas ou retratos. As suas obras encontram-se traduzidas em mais de 40 países. Ainda hoje é reconhecido como um dos intelectuais franceses mais influentes.
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