António Jacinto
António Jacinto do Amaral Martins «nasceu em 28 de Setembro de 1924, em Luanda, terceiro filho de José Trindade Martins e Cecília do Amaral Martins. Terminado o curso dos liceus, o técnico oficial de contas António Jacinto começa a trabalhar como empregado de escritório.
Em 1955, o camarada político António Jacinto participa na fundação do Partido Comunista de Angola. Quando, em 1960, lhe perguntaram qual a sua personagem histórica favorita, ele responde: «Dizem-na fisicamente parecida comigo. Nome impublicável.»
Em Junho de 1961 ele e a mulher Aurora têm o único filho — eu.
Ainda nesse ano, poucos meses depois, como membro político nas fileiras do MPLA, é preso pela PIDE.
Durante o julgamento, o Jacinto entrando algemado, tirava a mão das algemas e cumprimentava todo o mundo com a complacência dos militares que o escoltavam.
Condenado a catorze anos de prisão, com os também escritores José «Luandino» Vieira e António Cardoso (a acusação chegou a pedir para eles, em determinada altura, a pena de morte) é deportado em 1963 para o campo de trabalho de Chão Bom no Tarrafal, onde, entre outras coisas, escreveu e deu aulas (de Matemática).
Até 1972, a relação pai-filho existiu exclusivamente por postal (sempre fiquei com uma colecção muito significativa de postais ilustrados).
Em 1972 é libertado em sistema de liberdade condicional que deveria cumprir em Portugal Continental, longe da família. Nesse mesmo ano, no gozo de um mês de férias em Lisboa, conheci pessoalmente o meu pai.
No princípio de 1973 foge para a Argélia e junta-se ao MPLA na clandestinidade.
Em 1974, venho com a minha mãe para Lisboa, onde passei a viver, quando o meu pai regressa finalmente a Luanda, tendo participado activamente na construção do país (foi secretário de Estado da Cultura, ministro da Educação e Cultura, membro do Comité Central e do Bureau Político do partido).
A partir dessa data, ele veio de férias algumas (poucas) vezes a Lisboa e eu ia ano sim, ano não, de férias a Luanda tornando esse contacto um pouco mais frequente do que no princípio de vida. […]
O poeta/contista António Jacinto (ou Orlando Távora ou Sali Pimenta) escreveu meia dúzia de livros de poesia e contos (para além de uma ou outra estória que me enviava na correspondência trocada). Fosse pela qualidade ou pela afinidade, eu gostava do que lia.
Está traduzido em mais de dez línguas, publicado em mais de vinte países, presente em muitas colectâneas sobre literatura africana.
Ganhou alguns prémios nacionais e internacionais. Especial referência para a «Ordem Félix Varela de 1.º Grau» atribuída pelo Conselho de Estado de Cuba a quem se distinguiu na literatura.
Sempre que me era pedida a profissão do pai, a minha resposta era invariavelmente poeta. Não sou um político activo e tenho muito pouca apetência para a escrita. Dele adquiri a organização, a força de vontade, a casmurrice e o sentido de humor.»
[BIOGRAFIA DE ANTÓNIO JACINTO ESTABELECIDA POR SEU FILHO MANUEL FORTUNATO DO AMARAL MARTINS]