Ezra Pound

Ezra Weston Loomis Pound nasceu a 30 de Outubro de 1885, numa pequena cidade mineira do Idaho, no noroeste dos Estados Unidos da América, mas mudou-se ainda bebé para Filadélfia, na costa oeste, onde a pequena família de classe média — Pound era filho único — se fixou.
Pound formou-se na Universidade da Pensilvânia, onde estudou literatura e gramática inglesas, bem como diversas línguas — latim, grego, provençal, francês, italiano, alemão… Aí conheceu William Carlos Williams e H. D. (Hilda Doolittle) com quem iniciou amizades que durariam toda a vida.
Em 1907, tornou-se professor de Línguas Românicas no Indiana, e publicou os primeiros artigos de crítica literária. No ano seguinte, porém, já escritor de poesia e com um livro rejeitado por uma editora americana, decidiu rumar à Europa; Gibraltar primeiro, depois Veneza, onde publicou o seu primeiro livro de poemas, «A Lume Spento».
Assentou por fim em Londres, onde iniciou colaboração regular como crítico na revista literária «New Age», e mais tarde na «Poetry», de Chicago, como correspondente londrino. Integrou ainda o grupo modernista de T. E. Hulmes, que viria mais tarde a tornar-se o movimento Imagista, com outros autores como H. D., Ford Madox Ford, William Carlos Williams, John Gould Fletcher, e F. S. Flint.
A influência de Pound na poesia anglo-americana foi aumentando, e ele divulgou autores como Robert Frost ou D. H. Lawrence, mas o seu contributo para as letras foi mais além; orientou o trabalho de Yeats, já famoso na altura, sugerindo-lhe um novo estilo, moderno, e apoiou os novatos James Joyce e T. S. Eliot no início dos seus percursos literários.
Pound prosseguiu entretanto com a publicação da sua própria poesia; a partir do trabalho do grande orientalista Ernest Fenollosa, compôs versões inglesas da poesia chinesa antiga («Cathay», em 1915), e de peças japonesas de Noh (em 1916-17). Em 1917, publicou os três primeiros «Cantos» de um total que contaria cento e vinte e cuja produção o acompanharia pelo resto da vida. Manteve-se também dedicado ao movimento Imagista, que liderou, defendendo uma linguagem directa e clara para criar imagens precisas na poesia. Em finais de 1914, acabaria por redefinir a sua concepção de imagem, e fundou um novo movimento — o Vorticismo.
Profundamente perturbado com o desenrolar da Primeira Guerra Mundial, Pound decidiu mudar-se para Paris, mas antes de partir deixou publicados dois importantes trabalhos poéticos — o poema «Homage to Sextus Propertius», no livro «Quia Pauper Amavi», de 1919, e «Hugh Selwyn Mauberley», de 1920.
A estadia de Pound em Paris durou até 1924; ali conviveu com os dadaístas, conheceu e ajudou o jovem escritor Ernest Hemingway, escreveu a ópera «Le Testament», e envolveu-se profundamente na edição do livro «The Waste Land», de T. S. Eliot, enquanto manteve colaboração com revistas e jornais literários. Rumou depois a Rapallo, na Itália, onde viveria nos vinte anos seguintes. Editou a sua própria revista, «The Exile», prosseguiu na publicação dos «Cantos» e acentuou o seu interesse pela música, promovendo diversos concertos de música clássica.
Em 1934, publicou o «ABC da Leitura». Nele, Pound apresenta-nos uma cartilha para nos ensinar — a todos nós, comuns leitores — a arte da leitura: diz-nos o que ler e como. Começa por sugerir um método para apreciar e compreender a melhor literatura do mundo, prossegue deixando excertos dos textos essenciais, e conclui com um esclarecedor «Tratado de métrica» para ensinar a ler poesia.
Foi por altura da Grande Depressão dos anos 1930 que Pound começou a aprofundar os temas de história económica e reforma monetária e, embora já antes tivesse escrito comentários anti-semitas nalguns dos seus artigos, envolveu-se na política, aproximando-se de Mussolini e, mais tarde, apoiando Hitler. Foi preso pelas tropas norte-americanas que libertaram Itália após a Segunda Guerra Mundial. Acusado de traição, foi considerado mentalmente inapto para julgamento e internado num hospital psiquiátrico nos Estados Unidos, onde ficou durante doze anos.
A prisão e o internamento não lhe travaram o trabalho, e continuou a traduzir e a escrever o seu longo poema «Cantos», que, apesar disso, e das suas oitocentas páginas, ficaria inacabado; depois de regressar a Itália, em 1958, Pound remeteu-se ao silêncio.
Morreu em Veneza, em 1972. Para o inventário, ficam setenta livros publicados, colaborações em outro tanto, mais de mil e quinhentos artigos. «Os Cantos», a sua obra de vida, permanece como uma das obras maiores do modernismo.