Jaimemorto

Jaimemorto nasceu aos treze anos, pele por fora, embrião por dentro, alma enrugada. Julgava que o seu embrião, como o das outras criaturas, iria amadurecer e crescer, mas isso nunca aconteceu. Ficou sempre embrião, a permitir-lhe ver como são todas as coisas antes sequer de existirem.

De Viseu rapidamente se mudou para Aveiro, a sua verdadeira cidade de onde só saiu aos dezassete anos. Nesta cidade amigou os estranhos (sendo que a sua indumentária de mordomia remendada afastava muita gente), conquistou a escola, ganhou concursos de escrita e foi medalhado pelo município. Tentou também convencer o violino a ser a sua dama, o que a longo prazo não deu resultado (iria mais tarde aprender o canto das sereias).

Depois, seguiu para estudar na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Partilhava casa com colegas estranhos e adquiriu um gato. Queria aprender tudo sobre a Natureza, pois tudo o que é natural é humano, mesmo as coisas mais tenebrosas.

Após seis anos desceu para o Alentejo para se formar em Psiquiatria porque o maior labirinto natural que o seu embrião conhecia era a mente humana.

Cinco anos depois, já formado, subiu para a Póvoa de Varzim. Assim continua, contando agora com três gatos, uma mulher labiríntica e com um novo fogo aceso que espera que nunca mais se apague.