Pedro Ribeiro da Silva
Cansou-se de escrever de forma convencional e tecnocrática sobre as cidades. Urbanista de profissão, passou um longo tempo a redigir relatórios, regulamentos e pareceres. Mais tarde, a lê-los e corrigi-los, voltou a cansar-se. Nas autarquias onde trabalhava, exaltava-se quando lhe chamavam consultor respondendo que só sabia “pôr-a-mão-na-massa”. Começou a perceber que uma história sobre a cidade fazia mais pelos conceitos urbanos do que os grossos volumes de um Plano Diretor Municipal. Que uma boa narrativa produz mais efeito do que um conjunto numérico de quadros do Instituto Nacional de Estatística. Que um relato escrito, com pessoas lá dentro, é bem mais percetível do que um licenciamento urbanístico. Resolveu, então, ao fim de três décadas, comunicar de distinta forma sobre o mesmo assunto de sempre. Acha que a vida é demasiado curta, porque só realmente se aprende a fazer novas coisas a cada três décadas. No caso das cidades, com a sua existência milenar, nem esse intervalo de tempo será suficiente. Por isso, nunca será um descritor de belas cidades, mas antes alguém que as percorre, com um crayon de criança na mão, desenhando irrequietas palavras, enquanto caminha, olha e sente o amor das pessoas que as compõem.