Virgílio Martinho

[1928-1994]

O singular percurso literário de Virgílio Martinho ficou marcado pela relação próxima que teve com autores que frequentaram nas décadas de 50 e 60 do século XX as várias tertúlias de cafés lisboetas, com destaque para a do Café Gelo, próxima do “movimento surrealista” (Alexandre O’Neill, António José Forte, António Maria Lisboa, Cruzeiro Seixas, Herberto Helder, Mário-Henrique Leiria, entre outros).

Em 1958, publicou a novela, de pendor fantástico, Festa Pública, na colecção A Antologia em 1958, dirigida por Mário Cesariny. O apodo de “surrealista”, que ainda hoje alguns teimam em lhe colar, teve aí um momento marcante. Seguiram-se os contos de Orlando em Tríptico e Aventuras (1961), na mesma linha, e, noutro registo, Rainhas Cláudias ao Domingo (1972) — títulos que integraram o primeiro volume das OBRAS DE VIRGÍLIO MARTINHO.

Em 1970, Virgílio Martinho deu início a uma vertente que se tornará dominante na sua obra: o teatro. Publica a peça Filopópulus, na revista Grifo, antologia de inéditos organizada pelos autores (António Barahona da Fonseca, António José Forte, Ernesto Sampaio, Pedro Oom, entre outros. Depois deste texto (encenado por Joaquim Benite em 1973), seguiram-se dezenas de outros, sempre produzidos no Grupo de Teatro de Campolide, actualmente Companhia de Teatro de Almada.

Virgílio Martinho corporizou uma “liberdade livre”. Resistiu, com uma bonomia desconcertante, a modas, escolas, zangas e movimentos (surrealismo, fantástico, neo-realismo, realismo poético, etc.). Quem conviveu com ele, lembrar-se-á sempre do seu riso casquinado, cerveja numa mão e cigarro noutra. É isso.

Agora, deitamos novas luzes sobre os seus textos. Palcos novos para uma obra que será sempre livre.

[Carlos Alberto Machado, editor].