O viajante do metropolitano de Lisboa, sendo mais provável que tenha nacionalidade portuguesa, sai na estação do
Aeroporto da Portela e é surpreendido pelas caricaturas gigantes, a preto-e-branco sobre as paredes do cais, de quatro figuras
políticas que ele bem conhece da recente história do seu país, cada uma delas de corpo inteiro, sentada numa cadeira
de estilo clássico. O viajante de avião acabado de aterrar na capital, com grandes hipóteses de ser estrangeiro, desce
ao comboio subterrâneo e fica do mesmo modo surpreendido, no amplo corredor de acesso à estação, pela distribuição,
ao longo das paredes, de quase duas outras dezenas de caricaturas de personagens para ele desconhecidas com a
excepção, talvez, de Fernando Pessoa, mas que adivinha, pela forte individualização fisionómica de cada uma delas,
representarem gente viva, seja no passado ou no presente.
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Em finais do século XIX, Rafael Bordalo Pinheiro criou em folha de jornal o seu Álbum das Glórias, caricaturando
personagens relevantes da sociedade portuguesa. Cinco gerações depois, António, em suporte mais resistente, segue-lhe
os passos, actualizando a identidade das eminências portuguesas. Uma das personagens retratadas por Rafael foi o seu Zé
Povinho, e mesmo esse António não deixou de fora, desenhando-o junto ao seu criador, como se fosse a 51.º personagem
deste painel. É o fecho de um ciclo, e Portugal que continua.
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António Antunes
António (António Moreira Antunes) nasceu em Vila Franca de Xira em 12 de Abril de 1953. Tem o curso de Pintura da Escola Artística António Arroio, de Lisboa. Iniciou-se no cartoonismo em 16 de Março de 1974 no jornal República e é colaborador permanente do semanário Expresso desde o final de 1974. Dos prémios recebidos, destacam-se: Grande Prémio do XX International Salon of Cartoons (Montreal, Canadá, 1983); 1.° Prémio de Cartoon Editorial do XXIII International Salon of Cartoons (Montreal, Canadá, 1986); Prémio Gazeta de Cartoon (Lisboa, Portugal, 1992); Grande Prémio de Honra do XV Festival du Dessin Humoristique (Anglet, França, 1993); Award of Excellence — Best Newspaper Design, SND (Estocolmo, Suécia, 1995); Premio Internazionale Satira Politica (ex æquo) (Forte dei Marmi, Itália, 2002); Grande Prémio Stuart Carvalhais (Lisboa, Portugal, 2005); Prix Presse Internationale (Saint-Just-le-Martel, França, 2010); Prémio Gazeta de Mérito (Lisboa, Portugal, 2018). Realizou exposições individuais em Portugal, Brasil, Alemanha, Espanha, França, Luxemburgo, Bélgica, China e Holanda. Integra as antologias: The 1970s, Best Political Cartoons of the Decade, McGraw-Hill, PaperBacks, Nova Iorque; The Finest International Political Cartoons of Our Time, Wittyworld Books, EUA, 1992; The Finest International Political Cartoons of Our Time II, Wittyworld Books, EUA, 1993; The Finest International Political Cartoons of Our Time III, Wittyworld Books, EUA, 1994; Cartoonometer, Wittyworld Books, EUA, 1994; C’est Fôte à Bruxelles!, Centre Wallonie-Bruxelles, Paris, França, 2010. Autor de Figuras de Lisboa, 50 caricaturas de personalidades relevantes da vida política, cultural e artística da cidade, realizadas em pedra encastrada, que constituem a animação plástica da estação Aeroporto do Metro de Lisboa. É curador da Cartoon Xira e director do World Press Cartoon. Condecorado em 2005, pelo presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio, com a Ordem do Infante Dom Henrique, no grau de Grande-Oficial. Medalha de Mérito Municipal de Valor Cultural — Dourada/2019 Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Condecorado, em 2023, pelo presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Ordem da Liberdade, no grau de Comendador.
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