«Nessa época não procurei resposta para a questão na experiência que estava a viver. Não descobri, como acabo de o fazer aqui, qual a base do nosso amor. Nem que o facto de estar obcecado, ao mesmo tempo dolorosa e deliciosamente, pela coincidência sempre prometida e sempre evanescente do gosto que temos dos nossos corpos — e quando digo corpos não estou a esquecer que «a alma é o corpo», tanto em Merleau-Ponty como em Sartre — remete para experiências fundadoras que mergulham as suas raízes na infância: para a descoberta primeira, originária, das emoções que uma voz, um odor, uma cor de pele, uma maneirade se mover e de ser, que serão para sempre a norma ideal, podem fazer ressoar em mim. É isto: a paixão amorosa é uma maneira de entrar em consonância com o outro, corpo e alma, e com ele ou ela apenas. Estamos aquém ou para além da filosofia.»
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André Gorz
André Gorz (1923-2007) foi jornalista, activista e filósofo.
Nasceu em Viena em 1923 com o nome Gerhart Hirsch, mais tarde mudado para Horst com a conversão do seu pai, de origem judaica, ao catolicismo. Fugiu para a Suíça em 1939, depois da Áustria ter sido anexada pela Alemanha nazi, para evitar ser recrutado para o exército alemão. Formou-se em engenharia química em 1945, mas os seus primeiros trabalhos são como tradutor. Na Suíça conheceu Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir em 1946, que o instigaram a perseguir o seu interesse em filosofia moral e de quem permaneceu próximo várias décadas. Um ano depois, conheceu a inglesa Doreen Keir, sua futura mulher, que trabalhava então como actriz em Lausanne.
Casaram em 1949 e mudaram-se para Paris nesse mesmo ano. Adoptou então o nome André Gorz enquanto esperava pela naturalização francesa, e a sua mulher mudou Doreen para o equivalente francês, Dorine. Usou ainda o nome Michel Bosquet para assinar o seu trabalho jornalístico na Paris-Presse, depois no l’Express e mais tarde na revista de que foi co-fundador em 1964, Le Nouvel Observateur. É enquanto André Gorz que escreve vários textos para a revista fundada por Sartre e Simone de Beauvoir Les Temps Modernes, onde foi editor.
Foi pioneiro no tratamento da relação entre política e ecologia, a par de uma forte crítica ao capitalismo, consumo e globalização, e fez uma reflexão marcante sobre a natureza do trabalho e a sua história.
Em português foram traduzidos alguns títulos assinados Michel Bosquet: Crítica do Capitalismo Quotidiano (Iniciativas Editoriais, 1976), Ecologia e Política (Editorial Notícias, 1976), Ecologia e Medicina (1977), Ecologia e Liberdade (Vega, 1978). Dos títulos em francês não traduzidos destaque-se Le Traître (1957), La Morale de l’histoire (1959), Le Vieillissement (1962), Stratégie ouvrière et néocapitalisme (1964), Le Socialisme difficile (1967), Réforme et Révolution (1969), Fondements pour une morale (1977), Adieux au prolétariat (1980), Les Chemins du Paradis (1983), Métamorphoses du travail (1988), Capitalisme Socialisme Écologie (1991), Miséres du présent, richesse du possible (1997), L’Immatériel (2003).
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