
CINEgraMAS - Entre a Escrita e o Ecrã
Christopher Damien Auretta
Sujeito a confirmação por parte da editora
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Sinopse
Concebe-se o interstício como o espaço onde cultura e Natureza despertam, digamos, subitamente peregrinas e profusamente disléxicas. No seu despertar insólito, suspende-se a antiga lógica, as antigas proezas e a antiga ordem. Os seus respectivos territórios de protagonismo encontram-se doravante diversamente atravessados e diferentemente mapeados. Ora o interstício sabe comunicar em todas as línguas do universo; sabe ler o livro da Natureza, bem como pertence à casa matricial do ser. No entanto, fala todas as linguagens em simultâneo, misturando nelas as regras e os significados. Aliás, o interstício fala de acordo com a gramática infinita da diferença; daí o interstício ser portador de prodígio e perigo. Quem atravessa o interstício, espalha sismos. Quem desperta para o interstício, deita-se à noite transformado. Mas sabemos sobejamente o quanto o cinema não é tanto a arte do visível como a arte de revelar uma realidade que só se deixa captar nos interstícios do invisível. O cinema exige a todo o realizador uma decisão artística de peso, a de decidir o que se deve e se pode mostrar por ecrã interposto: ora a visibilidade habitual que caracteriza os nossos dias a que chamamos vida, ora essa invisibilidade iluminada pelo ecrã que é onde se revela a biografia real de seres opacos como nós. A arte do cinema é este prodígio de transformação das regras que governam a nossa existência quotidiana mediante a luz maior da revelação. Não há nenhum turístico velejar possível neste contexto: recordar comporta risco. Recordar impõe (novas) rotas e (novos) escolhos. Contudo, o acto de recordar promete também a possibilidade de novos itinerários a partir dos silêncios e sinistros passados. Afinal de contas, o que é que a vida quer de nós senão a totalidade de tudo quanto somos nos interstícios do nosso terror perante a magnitude transcendente dessa mesma vida?
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