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Sinopse
Seja onde estiver, aqui ou lá, serei sempre um estrangeiro, ou
seja, o habitante de um espaço situado entre duas terras que não
me podem pertencer inteiramente.
O olhar gera pensamentos e os pensamentos geram imagens?
Sim, há uma interconexão na minha maneira de trabalhar. Por um lado, o pensamento narra-se por imagens e as imagens,
por sua vez, suscitam outros pensamentos, como acontece na banda desenhada, em que a palavra mágica é: «continua».
Meditação imaginosa…
Portanto, a obra não se forma seguindo a ideia de um projecto inicial, mas antes, partindo sempre dele, evolui e modifica-
se, conforme os pensamentos e as solicitações que nascem no decorrer do trabalho.
[…]
A propósito do teu sentido cumulativo, gostaria de saber mais acerca das três línguas que frequentaste ao longo da tua vida: o
Português, o Francês e o Italiano.
O Português é a minha língua-mãe. Por sua vez, o Francês foi
uma língua que comecei a aprender na escola, por volta dos meus
13 anos, no que era então chamado «2.º ciclo do liceu». Era também
considerada a língua da cultura pelas famílias de extracção burguesa.
Tive ocasião de a aperfeiçoar mais tarde, até no dia-a-dia, em
Paris, durante os quase dois anos (1967-1968) da minha estada na
capital francesa, depois de ter desertado do exército português e de
ali ter encontrado abrigo e refúgio político.
Pelo que diz respeito ao Italiano, a língua em que respondo aqui
às tuas perguntas, diria que é uma língua que eu adoptei e que me
adoptou. Frequento-a quotidianamente há 52 anos e é preciso dizer
que foi nela que me tornei pai de uma filha e avô de três netos. Posso,
portanto, afirmar que o Italiano é agora, e sê-lo-á para sempre, a língua
das distâncias aproximadas, uma minha autêntica segunda pátria,
habitada culturalmente e vivida afectivamente. Gostaria apenas de
acrescentar a esta clara certeza que a minha relação com a arte não é
certamente alheia a tudo isto, visto ser mediada e estruturada por
estes três ramos linfáticos.
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