Sinopse
Catálogo publicado por ocasião da exposição «Decorativo, Apenas? - Júlio Pomar e a
integração das artes», de Catarina Rosendo, de 5 de Maio de 2015 a 8 de Setembro de 2016.
- «Um motivo decorativo,
apenas
»
- Não é verdade que isto se ouve muitas vezes? Ora na boca de um arquitecto, ao solicitar
a colaboração do pintor ou do escultor, ora na de um destes; ou com um arzinho escondido
de desculpa, ou com as maviosidades do cigano que impinge burro velho. De passagem se diga
que é possível também ouvi-lo dito com inocência, dado que a inocência em matéria de arte
é muito mais corrente do que se pinta.
De passo em falso a passo em falso, tem-se consolidado uma concepção empobrecida do
decorativo. Cortaram-se à garçonne as tranças de estafe: fazer «moderno» passou a ser pôr
10 onde dantes se punha 100, e usar à vontade de uns tantos cosméticos, sem cuidar
primeiro de lavar a cara. Quantas santas almas puderam assim encontrar o descanso! E deste
modo, «decorativo» foi significando arrebique, boneco de estampar, farfalhice
obrigatoriamente inexpressiva.
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Eu creio que, entre nós, se tem empurrado a obra decorativa, voluntária ou
involuntariamente, para a categoria de Parque Mayer das artes. À parte raras tentativas
honestas, que vemos? Um coro mal afinado em que se juntam o conformismo, o delicodoce, as
soluções mil vezes gastas. O que faz com que tantos vão interpretando o decorativo como
uma espécie de doença vergonhosa, e não, afinal, como a expressão, de todas a mais viva,
da arte do nosso tempo.
Júlio Pomar