Enfermidades quererá mesmo, como se diz, abolir cerca de quatro mil termos e expressões da língua portuguesa? Defenderá, mesmo a sério, que as línguas são para “emudecer”, para não serem faladas? Acreditará que as explicações da ciência são apenas “patranhas” numa altura em que (meados do século XVIII) o Iluminismo até já estava a chegar a Portugal? Ou Sylvestre Silverio da Silveira Silva é um alter ego de Manuel José de Paiva, muito útil para nos deixar interessantíssimas expressões populares, sarcásticas, que, com a justificação de que “não se devem usar”, misturam calão com críticas aos comportamentos eclesiásticos e ao papado, desde o viver em opulência até à venda das bulas, usando uma estratégia que permitiu “todas as licenças necessárias” da Inquisição em pleno consulado do Marquês de Pombal? O certo, é que sem Enfermidades, não tínhamos testemunho de que eram usados todos esses termos e expressões oficialmente condenáveis. Não terá sido recurso do simulador (até no nome…) Sylvério Silvestre Silveira da Silva, para fugir à moralidade do silêncio que aparentemente a obra defende, usar como estratégia imbatível a listagem escancarada do que moralmente defendia dever silenciar-se? Como duzentos anos antes tinha dito Giordano Bruno, "se non è vero, è molto ben trovato"...