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Festa Pública / Orlando em Tríptico e Aventuras / Rainhas Cláudias ao Domingo - Obras de Virgílio Martinho I

Obras de Virgílio Martinho

Virgílio Martinho

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15,31 € 17,00 €

Detalhes do Produto

Sinopse

Apresentação de Luís Miguel Rosa

Nota biográfica e Notícia bibliográfica de Carlos Alberto Machado

«A característica que mais me impressionou a ler este volume, a que me parece tão moderna, é a ideia da ficção como performance em vez de relato realista, como se ela estivesse a tentar regressar aos antigos dias dos rapsodos. No clima festivo de Festa Pública, o pólen do sexo no ar, o mestre de cerimónias da Organização Internacional de Espectáculos Emocionantes inicia um show: “Temos a honra de servir honestamente o vosso optimismo, a vossa justa curiosidade, o vosso direito de diversão, para tanto é nosso costume obrar prodígios.”

(…)

A performance prossegue em Orlando: no conto circense “Alegre Folião” as acrobacias dos trapezistas Alegre Folião e Lucrécia intercalam-se com o drama duma menina burguesa, Raimunda, que se tenta suicidar saltando do camarote, salvando-se pelas saias enfunadas.

(…)

Além disso, Martinho sabia que a performance é uma componente da cerimónia, a qual é intrínseca às ditaduras. Em “Morto Glorioso” é realizado o funeral dum chefe de estado: “O Glorioso Governador Morto da Cidade estava exposto às homenagens públicas.” As exéquias ficam a cargo de D. Paio, “o magnífico castelhano, que tudo previra e montara segundo o protocolo e os usos tradicionais.” As ditaduras são produtoras de ficções, e uma das poucas utilidades da ficção é ensinar-nos a localizá-las e a desconfiar delas.

Assim sendo, muitos contos em Orlando apresentam o conflito entre o indivíduo e a ordem vigente, geralmente por transgressões de política sexual.

(…) Este romantismo só soçobra em Rainhas Cláudias ao Domingo, um quadro terso duma relação entre Sofia, a “pegazita”, e Virgílio, um cliente, num sisudo registo de transacção: “Depois a pergunta, a vital: tens uma cama? O Virgílio ganhou, embora Sofia lhe respondesse oficinalmente: tenho, mas primeiro passa pra cá a massa.” Mas até neste conto, uma obra-prima de esqualidez terra-a-terra, o mais realista do volume e o mais emotivo pela volta que toma o encontro entre ambos, se ouve a performance, o aparte do narrador dirigido ao leitor: “E o Virgílio tremia, ele, o macho, tremia. Rouco e percorrido de certa moleza como vossas excelências quando vão prá cama com a vossa querida.”»

[Luís Miguel Rosa, da “Apresentação”]

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Amostra

Autor

Virgílio Martinho

[1928-1994]

O singular percurso literário de Virgílio Martinho ficou marcado pela relação próxima que teve com autores que frequentaram nas décadas de 50 e 60 do século XX as várias tertúlias de cafés lisboetas, com destaque para a do Café Gelo, próxima do “movimento surrealista” (Alexandre O’Neill, António José Forte, António Maria Lisboa, Cruzeiro Seixas, Herberto Helder, Mário-Henrique Leiria, entre outros).

Em 1958, publicou a novela, de pendor fantástico, Festa Pública, na colecção A Antologia em 1958, dirigida por Mário Cesariny. O apodo de “surrealista”, que ainda hoje alguns teimam em lhe colar, teve aí um momento marcante. Seguiram-se os contos de Orlando em Tríptico e Aventuras (1961), na mesma linha, e, noutro registo, Rainhas Cláudias ao Domingo (1972) — títulos que integraram o primeiro volume das OBRAS DE VIRGÍLIO MARTINHO.

Em 1970, Virgílio Martinho deu início a uma vertente que se tornará dominante na sua obra: o teatro. Publica a peça Filopópulus, na revista Grifo, antologia de inéditos organizada pelos autores (António Barahona da Fonseca, António José Forte, Ernesto Sampaio, Pedro Oom, entre outros. Depois deste texto (encenado por Joaquim Benite em 1973), seguiram-se dezenas de outros, sempre produzidos no Grupo de Teatro de Campolide, actualmente Companhia de Teatro de Almada.

Virgílio Martinho corporizou uma “liberdade livre”. Resistiu, com uma bonomia desconcertante, a modas, escolas, zangas e movimentos (surrealismo, fantástico, neo-realismo, realismo poético, etc.). Quem conviveu com ele, lembrar-se-á sempre do seu riso casquinado, cerveja numa mão e cigarro noutra. É isso.

Agora, deitamos novas luzes sobre os seus textos. Palcos novos para uma obra que será sempre livre.

[Carlos Alberto Machado, editor].

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