Tudo deverá ser sempre assim. Nenhuma

Coisa deve ser virada ou movida.

Tocada.

Tudo deve ser assim para sempre.

Paul Bowles (traduzido por Jorge Sousa Braga)

As esculturas elencadas neste livro, quase como uma série, têm o seu início na primeira década deste século, entre os anos 2005 e 2008, após um longo período, desde o início da década de 1990, em que o artista desenvolve o seu trabalho a partir de relações entre materiais tão diversos como objectos encontrados, madeira, tecidos como, por exemplo, seda ou tela de algodão, cartão, espuma moldável, materiais orgânicos cobertos de verniz, embalagens, sapatos, malas, cabos, moldes de torsos humanos e, por vezes, relações pontuais que incluem o trabalho de outros artistas.

Todos estes indícios presentes no vocabulário dos materiais são importantes, no sentido em que o artista desenvolve uma linguagem própria em termos formais e, essencialmente no campo visual, construindo esculturas como se fossem imagens. São objectos destinados a serem vistos em confronto com o corpo (inicialmente o corpo do artista), e não dependem de uma ideia ou de alguma prescrição temática ou simbólica endereçada a uma situação ou a uma causa, assente num propósito agregado a uma função ideológica ou a propor uma determinada mensagem. As esculturas operam no espaço em diálogo com a arquitectura, seja esta concebida para uma galeria, um espaço industrial, uma casa, ou o hall de um edifício empresarial.

[João Silvério]