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Sinopse
Se o divino designa o que perpetuamente dá vida, tal implica em pintura uma mimese do Sol.
É que o Sol - como Cézanne terá também lido no mesmo texto de Balzac - é «esse divino
pintor do universo».
O divino irradia-se materialmente do Sol: «Tudo, seres e coisas, não passa de uma maior ou
menor quantidade de calor solar armazenado, organizado, uma recordação de sol, um pouco de
fósforo que arde nas meninges do mundo.»
O Sol existe morrendo (consumindo-se) a pintar (o universo).
Mas o próprio Sol - tal como a morte - requer um mediador, um representante (o Sol e a
morte, como declarou La Rochefoucauld numa das suas Máximas, não podem ser vistos de face
ou fixamente). É essa a descoberta a que chega Cézanne: o Sol não se deixa reproduzir, e é
necessária outra coisa para representá-lo - uma outra coisa que dá pelo nome de cor.
Fazer a mimese do Sol significa então: na impossibilidade de o representar, pinta-se (um
quadro) como o Sol pinta (o universo). O pintor - o pintor da pintura divina, aquele que
faz a mimese do Sol - só pode existir morrendo a pintar. Não como quem se sacrifica diante
de um astro, mas como quem devolve o dom que é o Sol.
[
]
Que haja luz (em vez de obscuridade total), que haja visível (e não só audível, táctil,
etc.), eis o dom com o qual alguém - um pintor - nunca se conforma. Dom que excede tudo o
que é dado (toda a forma visível) e que leva assim alguém - o mesmo pintor - a repetir
esse dom sob uma forma eterna. A pintura eterniza o dom universal da luz. [Tomás Maia]