Detalhes do Produto
- Editora: Assírio & Alvim
- Coleção: Arte e Produção
- Categorias:
- Ano: 2009
- ISBN: 9789723714265
- Número de páginas: 144
- Capa: Brochada
Sinopse
«Perdoe-me desde já o benévolo leitor a ousadia da incursão de um soi-disant modesto artista
no domínio celerado e rigoroso das cousas typographicas. A minha relativa aversão, ou mesmo irritação,
ao que hoje se chama, em mercantil anglicismo, design gráfico, sempre se deveu ao rigor das ferramentas,
ao lado insonso dos tipos, à trabalhosa relação com as gráficas, às partidas que me pregaram nas
impressões e no tratamento das imagens, aos desaparecimentos de originais e outros assuntos que não
me acodem por ora. No entanto, sempre gostei de máquinas de escrever, da composição manual dos tipos,
das caligrafias rebuscadas, dos livros iluminados e dos acidentes que o tempo faz nos manuscritos:
manchas, carimbos, anotações, rasgões e outras desordens que por vezes perturbama legibilidade. Cada
vez mais acho que o livro, objecto de devoção algo moribundo (embora nobre e honroso!), deve ser encarado
como um caderno, e que a função recriativa do leitor é a de rabiscar, contrapor, achincalhar, precisar,
obscurecer, iluminar, traduzir, sublinhar, acrescentar, cortar, apagar, etc. Estas atitudes de remontagem
terão as suas virtudes se não vierem no sentido de empobrecimento e espartilhamento de
texto. Não tenho a pretensão de desautorizar o que é do autor, ou de celebrar alternativamente a recensão
comezinha e as batalhas recepcionistas dos estafados exegetas ou hermeneutas. No fundo, acho simpática
a ideia de que só o leitor que não é passivo é que é significativo (vai-se tornando o seu autor!),
mesmo que a significação seja uma floresta de equívocos.Tento não acentuar em demasia a ideia de que
são os vedores que fazem a pintura, se bem que a cozinhem e estufem superficialmente nos meandros
da consciênciamas as imagens também exercem os seus poderes sobre os corpos, bombardeando-os
com diversas afecções a que não conseguimos ser insensíveis.»
Pedro Proença