O quadro: condição decerto necessária para que a realidade psíquica tome todo o lugar, para que a análise possa imprimir movimento ao pensamento, à memória, à palavra. São necessários ao pintor os limites de uma tela para que o ilimitado de uma paisagem apareça, para que uma lâmpada não seja somente um objecto, mas fonte infinita de luz; é necessário um palco de teatro para que uma cena seja também uma outra cena; a arte da
fotografia assenta em boa parte na qualidade do enquadramento. Só a cerca do sono onde se rompem as amarras com o mundo exterior autoriza o sonho a despertar e a desdobrar-se em todos os sentidos. Condição necessária, mas não suficiente: o quadro permite a análise, não a produz. Tornar a sua manutenção, a sua permanência a sua preocupação principal bem poderia ser para o analista não mais do que uma barreira de protecção contra o medo de ser transbordado (sem contornos, sem limites), de enfrentar o informe.
Jean-Bertrand Pontalis