Numa clara manhã de primavera, Clarissa Dalloway resolve sair para comprar flores para a
festa que acolherá naquela mesma noite, em sua casa. Enquanto passeia pelas ruas de
Londres, são recolhidas imagens, sensações e ideias, entrelaçadas com as personagens que
habitam o seu mundo do marido, Richard Dalloway, à filha, Elizabeth, e a Peter Walsh,
amigo de juventude acabado de voltar da Índia e que com ele se cruzam fatalmente como
Septimus Warren Smith, veterano da Primeira Guerra Mundial assombrado pela doença mental.
Romance que revelou em pleno o talento de Virginia Woolf, a sua perspicácia, a
sensibilidade transparente e, sobretudo, a arte suprema de descrever os segredos das almas
não os atos mas as sensações que eles despertam fazem de
Mrs Dalloway
uma obra-prima indiscutível da literatura universal.
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Virginia Woolf
Virginia Woolf nasceu em Hyde Park Gate em 1882, num final de século vitoriano. O seu pai era o crítico literário Sir Leslie Stephen. Virginia teve a sua primeira crise depressiva em 1904, aquando da morte do pai. Mudou-se, em seguida, para a casa do irmão Thoby e da irmã, a pintora Vanessa Bell, em Bloomsbury, onde estes se reuniam com outros escritores e artistas, incluindo Lytton Strachey, J. Maynard Keynes e Roger Fry. Essa foi a origem do célebre Bloomsbury Group. Entre os seus participantes estava também Leonard Woolf, com quem Virginia se casou em 1912. Cinco anos mais tarde, o casal fundou a The Hogarth Press, que viria a publicar, além da própria Virginia Woolf, obras de T. S. Eliot, E. M. Forster e Katherine Mansfield, bem como traduções de Freud.
O primeiro romance de Virginia Woolf, A Viagem, foi editado em 1915, mas seria O Quarto de Jacob (1922) a suscitar o seu reconhecimento como uma escritora inovadora. Essa evolução seria confirmada em Mrs. Dalloway, onde a sua escrita captou a evanescente matéria da vida e as fugidias experiências de Clarissa, através de um tempo psicológico e reversível.
«Insubstancio, até certo ponto intencionalmente, não confiando na realidade — no que tem de reles», escreveu no seu diário em Junho de 1923, quando trabalhava em Mrs. Dalloway.
A sua abordagem modernista, caracterizada pelo uso da corrente de consciência e com ênfase na personagem e não no enredo, foi desenvolvida em Rumo ao Farol, nos monólogos de As Ondas, em Entre os Actos e em vários dos seus contos.
Virginia Woolf suicidou-se no rio Ouse a 28 de Março de 1941, em plena II Guerra Mundial.
Tinha então quase sessenta anos, publicara nove romances, sete volumes de ensaios, duas biografias e vários contos.
Antes escrevera ao seu marido: «Tenho a certeza de que vou enlouquecer outra vez. E sinto-me incapaz de enfrentar de novo um desses terríveis períodos. Começo a ouvir vozes e não consigo concentrar-me […]. Se alguém pudesse salvar-me serias tu […]. Não posso destruir a tua vida por mais tempo.»
E, finalmente, uma frase inesperada, que retoma a que Terence diz a Rachel morta, em A Viagem, seu primeiro romance:
«Não creio que dois seres pudessem ser mais felizes do que nós o fomos.»
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