«Mulher Brava Não Cabe em Casa inscrição que vale por si, em oposição à aviltante Do homem a praça, da mulher a casa e que tinha, para mim, um alcance especial, por ser a chave capaz de libertar as emoções excruciantes que me perseguiram, anos a fio, por causa da visão primeva de uma mulher encafuada na lareira, presa a tachos e panelas, em benefício da propaganda de uma ideologia totalitária que degradava as mulheres em fadas do lar, e aqueloutra resultante da humilhação de milhares de mulheres aferrolhadas em casa por maridos ciumentos e a quem só era consentido assomar à janela, com os braços apoiados numa almofada assente no parapeito.»
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João Mendes Ramos
Nasceu em Nelas…, (vila à beira da serra da Estrela, onde os
partos ocorriam indiferentemente em casa e no campo, sem
dia aprazado nem hora marcada).
Numa ala da escola primária feminina…, (residência da professora, sua mãe, na qual, entre as alunas das quatro classes
que lecionava, em simultâneo, aprendeu a ler, a escrever e a
resolver problemas com torneiras e comboios).
Cinco anos após o fim da 2ª guerra mundial, (num tempo
em que as pessoas cresciam a xaropadas de óleo de fígado
de bacalhau, sem chupetas, fraldas descartáveis, telemóveis,
internet e sorteios promovidos pelo fisco).
Estudou em Coimbra…, (cidade onde se licenciou em Direito,
praticou canto e artes plásticas e tomou consciência da necessidade de lutar pela paz e pela liberdade)
Mudou-se para Lisboa…, (quando a esperança renascia nas
ruas e, entre presidentes, deputados, ministros, juízes e burocratas, advogou, assessorou, defendeu teses, elaborou pareceres e powerpoints, recebeu louvores e comenda)
Vive atualmente entre Lisboa e Sesimbra, (onde, aposentado e sem jeito para a nobre arte da pesca, se dedica ao cultivo
de hortaliças, ao ténis, à leitura e à escrita).
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