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Sinopse

«Poeta consciente dos seus processos e da dimensão de artesania do seu trabalho, Ruy Belo é frequentemente tomado pelo arrebatamento e pela veemência.Tendo aprendido comEliot e Pessoa a íntima relação entre vir numa tradição e conquistar a singularidade, a sua poesia pode tornar-se uma poesia da poesia e, entretanto, assumir-se como risco corrido na linguagem, ou seja, aventura que na linguagem se expõe e corre riscos. É que na sua obra vibra de uma ponta a outra uma inquietação que começou por ser religiosa e depois se despediu da crença e se tornou inquietação ontológica emetafísica, é certo,mas imanente à circunstância terrestre do humano, experiência do confronto entre a repetida e magoada descoberta da finitude da nossa condição e o compromisso insistente com o desejo da ilimitação do finito. Assim constantemente renasce e se expande essa conversa que se ergue na solidão e mais do que redimi-la a partilha connosco.
Essa conversa, sustentada por uma fala, que se desdobra como numintensomonólogo dramático, irónica ou comovida e comovente, é como se nos falasse ao ouvido, como se tivesse umsegredo a dizer- -nos e, contudo, embora esse segredo fosse já público, nós continuássemos a não saber qual fosse.»

Manuel Gusmão

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Autor

Ruy Belo

Doutorado em Direito Canónico pela Universidade de S. Tomás de Aquino, em Roma, e licenciado em Filologia Românica e em Direito pela Universidade de Lisboa, lecionou no ensino secundário e foi leitor de Português na Universidade de Madrid. Foi diretor literário de uma editora; chefe de redação da revista Rumo; adjunto do Diretor do Serviço de Escolha de Livros do Ministério da Educação Nacional; bolseiro de investigação da Fundação Calouste Gulbenkian; tradutor de numerosos autores franceses e colaborador em várias publicações periódicas. Vítima de um edema pulmonar, a sua morte precoce, em 1978, colheu de surpresa uma série de escritores que lhe dedicam, no mesmo ano, uma Homenagem a Ruy Belo. Iniciada em 1961, mas mantendo-se, na confluência da poesia dos anos 50, equidistante quer de um dogmatismo neo-realista quer do excesso surrealista, mas incorporando aquisições dessas duas formas de comunicação estética, para António Ramos Rosa, «A poesia de Ruy Belo é uma incessante reflexão sobre o tempo e a morte e a incerta identidade do sujeito que em vão procura o lugar originário onde se encontraria o ser na sua totalidade [...]. A incerteza e uma profunda frustração, muitas vezes impregnada de uma trágica ironia, dominam esta procura do lugar ontológico e da degradação existencial». (Incisões Oblíquas, Lisboa, 1987, p. 66). Abarcando a crítica irónica da realidade social e a denúncia das diversas problemáticas que equacionam o homem, desde a sua vivência espiritual e religiosa até ao envolvimento concreto e existencial, a poesia de Ruy Belo é uma «forma de intervenção, de compromisso, de luta por um mundo melhor [...] sem [...] o poeta pactuar com a demagogia, com o oportunismo que afinal representa não ver primordialmente na arte criação de beleza, construção de objectos tanto quanto possível belos em si mesmos» («Nota do Autor» a País Possível, 1973).

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