Cruzinha, a mítica cidade em que decorre a ação de No Fim de Um Lugar, é semelhante à Macondo de Gabriel García Marquez ou à Komala de Juan Rulfo: "um país diferente, dentro da nossa pátria", como es- creve o autor. É em Cruzinha que os protagonistas inusitados destas histórias - que podem ou não guardar enlaces entre si - desfilam suas diásporas psicológicas ou geográficas, com diferentes juízos e expectativas, de forma a levar o leitor a desfechos muitas vezes imprevisíveis. José Manoel, Tonica, Maria Fernandes, Rita, Chico Januário e a impagável Dionísia Catabriga são sobreviventes de um lugar qualquer, onde vão da mesmice do interior à utopia buscada no cosmopolitismo da metrópole, ensejando uma subversão de suas apequenadas existências. Seus ideais, porém, sistematicamente vilipendiados, cedem espaço ao burlesco e a ilusões que se dissolvem no choque com a realidade. A maestria verbal de Fernando Chagas Duarte leva o leitor, do início ao fim, às vertigens de uma solidão atávica, cujo fio também conduz a um percurso de epifanias e descobertas.