Sinopse
Este livro, com desenhos de João Jacinto, foi publicado por ocasião da exposição «Noite,
noite mais do que hoje», realizada nos Artistas Unidos, Teatro da Politécnica, Lisboa, em
Setembro e Outubro de 2016.
«Quando a taciturna chegar e decapitar as túlipas», dizia Paul Celan, o poeta que logo
procurei ao chegar um dia destes do atelier do João Jacinto, e de ele me mostrar uma
infinidade de papéis (não disse desenhos, não sei se são, o carvão aqui pinta o magma, a
noite sem redenção, serão pintura). «Quando a taciturna chegar.» E neste poema, ele
pergunta: «quem assomará à janela?» Procuro esta poesia para salvar o susto? Redimir o
temor? Procuro estes dizeres para arrumar o medo? Para sobreviver ao inverno dos corpos?
Na arte (mortuária? espectral?) de João Jacinto, emergem figuras, assombrações, pesadelos,
fantasmagorias. Emergem, disse. Mas podia também dizer «afundam-se». E repetem-se,
repetem-se, repetem-se, avassaladoras.
Jorge Silva Melo