«Calar-me?
Hei de falar tão livre como o vento.
E venham todos, céu, diabos, homens,
Que gritem contra mim, hei de falar.»
Otelo, destacado general mouro ao serviço do Estado de Veneza, apaixona-se pela bela e jovem Desdémona, oriunda de uma abastada família veneziana. Iago, alferes de Otelo, dominado pela raiva de ter sido preterido, em favor de Cássio, numa promoção a capitão, denuncia a união entre os dois amantes, realizada em segredo, a Brabâncio, pai de Desdémona, provocando a sua ira. Não logrando o seu intento de destruir Otelo, Iago convence-o de que Desdémona o trai com Cássio, assim desencadeando uma série de ações que precipitarão o mais funesto dos desfechos.
Otelo é uma das mais importantes e belas tragédias de Shakespeare, cuja notável densidade psicológica expõe a queda inevitável de um homem consumido pela paixão e pelo ciúme. Uma tragédia sobre poder, racismo, amor e traição, tão relevante hoje como em 1603, ano em que foi escrita pelo maior dramaturgo de sempre.
Tradução e introdução de Daniel Jonas
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William Shakespeare
William Shakespeare, dramaturgo, poeta e ator inglês, nasceu, crê-se, a 23 de Abril de 1564 em Stratford-upon-Avon, numa família de comerciantes bem-sucedidos. Apesar de poucos registos terem chegado até nós sobre esta época, terão constado da sua educação a aprendizagem do Latim e a leitura extensiva dos autores clássicos. Aos 18 anos, casou com Anne Hathaway, com quem teve três filhos: Susanna e os gémeos Hamnet e Judith.
Em 1594, junta-se à companhia de teatro The Lord Chamberlain’s Men, mais tarde renomeada como The King’s Men, em Londres, com que trabalharia até ao fim da sua carreira. Entre 1585 e 1613, a produção dramática de Shakespeare é inigualável: Ricardo III e Henrique IV são as suas primeiras produções teatrais, seguidas de Tito Andrónico, Comédia de enganos e Dois senhores de Verona. Mais tarde, seguir-se-ão Sonho de uma noite de verão, O mercador de Veneza, Como quiserem, Muito barulho por nada. Com Romeu e Julieta e Júlio César, Shakespeare abre o caminho para a escrita daquelas que viriam a ser as suas obras-primas, maioritariamente escritas nos primeiros anos do século XVII: Hamlet, Otelo, O rei Lear, MacBeth, António e Cleópatra, Corialano. No final da sua carreira, conclui Cimbelino, O conto de inverno e A Tempestade.
Apesar de a maioria das suas peças ter sido publicada com considerável êxito enquanto viveu, só mais tarde se compreendeu a verdadeira dimensão do seu génio e o caráter inovador do seu trabalho. A extensão da sua influência ultrapassa as fronteiras do tempo, do espaço e da língua inglesa, verificando-se em escritores de todo o mundo, do século XVII aos dias de hoje, além de romper com os próprios limites linguísticos, sendo observável em manifestações artísticas de todo o tipo, como na música, na pintura e na sétima arte, bem como nas fundações da psicanálise, pela mão de Sigmund Freud.
Considerado um dos poetas mais importantes da língua inglesa e um dos dramaturgos mais influentes de sempre, o legado do «bardo de Avon», que se estende por 39 peças de teatro (comédias e tragédias) 154 sonetos e 3 poemas épicos, desperta, até hoje, a admiração e o entusiasmo de quem estuda e interpreta a sua obra.
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