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Sinopse
A partir da obra homónima de Ivan Turguéniev.
(Ouve-se «Voice of the Blood» de Hildegard von Bingen. PEDRO encontra-se quase sozinho em cena, apenas acompanhado por um vídeo de Jorge Jácome. Dir-se-ia que PEDRO está tenso. E dir-se-ia também que o espetáculo é, na verdade, uma conferência.)
Pedro — «Autoria é sempre coautoria», escreveu Mario Biagioli (um professor de Direito e Estudos Científicos). Foi ele que escreveu, mas olhando para a frase fica claro que não foi ele que escreveu. Ou pelo menos não escreveu sozinho.
Se por acaso leram o programa deste espetáculo, ou viram o cartaz, saberão (e se não sabem, digo-vos agora) que eu assino a autoria do texto. Mas lá está, não é verdade. Porque, embora seja realmente o meu nome na assinatura, são muitos os pensamentos que geram o conteúdo do espetáculo, são muitas as ideias, paridas por muitos pensadores. Por exemplo, tudo isto que acabei de dizer não fui eu que escrevi, é uma citação. De uma autora inglesa. Uma teórica feminista queer que se chama Sophie Lewis e que, no seu livro, cita o Mario Biagioli. E eu cito a citação porque é justamente de coautoria, de gestação e de parir que este espetáculo trata. Começa com um facto biográfico: há já três anos que eu e o meu marido estamos envolvidos num processo de criar uma nova vida, um processo em que deixo a minha condição identitária única de filho para lhe agregar também a de pai.
E estamos a fazê-lo… no Canadá, através de um método que se chama gestação por substituição (antes conhecido por «barriga de aluguer»), algo complexo e feito em coautoria múltipla: nós os dois, uma dadora de óvulos e uma «mãe de substituição», a gestante, a surrogate. E fazemo-lo no Canadá porque é proibido em Portugal (exceto para casais heterossexuais quando a mulher apresenta uma impossibilidade física de engravidar).
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