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Sinopse

“[…]
RUÁ (GRANDE é a sua origem) dormia com a mulher, a terra tenebrosa, que deu à luz o seu rei, o solo, e depois o crepúsculo, e depois as trevas. Ruá repudiou então essa mulher. Ruá (grande é a sua origem) dormia com a mulher chamada Grande Reunião, e esta deu à luz as rainhas dos céus, as estrelas, e depois Faiti, estrela da tarde. O Rei dos céus dourados, rei único, dormia com a sua mulher Fanuí, e nasceu dela o astro Fouruá – Vénus (estrela da manhã) – o rei Fouruá que dá leis à noite e ao dia, às estrelas, à lua, ao sol, e serve de guia aos marinheiros. Fez-se à vela para a esquerda, Fouruá, e para o norte, e dormiu aí com sua mulher, guia dos marinheiros, que deu à luz a estrela vermelha, estrela vermelha que brilha à tarde com duas faces. Estrela vermelha, o deus que voa para oeste, prepara a piroga, a piroga do dia alto que singra em direcção aos céus. Faz-se à vela ao nascer do sol. Ruá caminha nos espaços. E dormia com sua mulher Urá-Tanaipá, nascendo dela os reis, os gémeos que estão à frente das Plêiades. Eram de Bora-Bora e ao ouvirem os pais dizer que iam separá-los, abandonaram a casa paterna e foram juntos para Raiatea, e depois para Uhamê, Eimeo e Otaiti. Mal partiram, a mãe inquieta começou a procurá-los mas chegava sempre tarde a todas as ilhas. Soube no entanto em Otaiti que eles ainda lá estavam e se escondiam nas montanhas. Acabou por descobri-los, mas fugiram à sua frente, até ao cume mais alto. Aí, lavada em lágrimas, no instante em que se julgava prestes a apanhá-los eles levantaram voo para os céus e ainda lá se encontram, no meio das constelações.
[…]”
Gauguin em Noa Noa

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Autor

José Tolentino Mendonça

José Tolentino Mendonça é poeta, sacerdote e professor. Nasceu na ilha da Madeira. Estudou Ciências Bíblicas em Roma e vive no Vaticano desde 2018, onde é responsável pela Biblioteca Apostólica e pelo Arquivo Secreto do Vaticano. Em 2019, foi elevado a Cardeal pelo Papa Francisco. Tem publicado a sua poesia na Assírio & Alvim e, desde 2017, a sua obra ensaística na Quetzal. Para José Tolentino Mendonça, «a poesia é a arte de resistir ao seu tempo». Os seus livros têm sido distinguidos com vários prémios, entre eles o Prémio Cidade de Lisboa de Poesia (1998), o Prémio Pen Club de Ensaio (2005), o italiano Res Magnae, para obras ensaísticas (2015), o Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes APE (2016), o Grande Prémio APE de Crónica (2016) e, mais recentemente, o prestigiado Prémio Capri-San Michele (2017).

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