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Sinopse

“A poesia de Ruy Belo é uma daquelas que é feita de diferentes modos e formas e, ao mesmo tempo, de motivos constantes, de retomadas e variações. Ele é capaz da mestria no poema curto e, em particular, nesse tipo de forma fixa especialmente disponível para o jogo da composição verbal, que é o soneto, e contudo também capaz de se entregar, num misto de vertigem e de rigor de construção, ao poema longo. Capaz de construir um livro que é uma arquitectura de poemas e um outro que é rigorosamente um único e longuíssimo poema.
Para além disso, é uma poesia que pratica uma grande diversidade de entoações, tonalidades, ritmos e formas; que é canto elegíaco, declaração, narrativa, meditação, invenção da memória e escuta do que virá, encontro e despedida com as paisagens do mundo e os rostos do amor; uma poesia que muda de voz, cola e integra diferentes registos discursivos que podem ir da citação erudita ou do jogo dos conceitos à reconstrução do falar coloquial; que explora, por vezes obsessivamente, figuras da sonoridade das palavras e figuras da construção sintáctica.
A sua poesia é por vezes intensamente dolorida, quase desesperada, mas é também temperada pela auto-ironia, e essas várias modalidades fazem sobressair um modo da alegria que pode ser a vibração de um acordo profundo com a terra ou apenas uma réstia de luz, um pequeno fulgor restante.”

Manuel Gusmão, in Phala 86 (excerto)

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Autor

Ruy Belo

Doutorado em Direito Canónico pela Universidade de S. Tomás de Aquino, em Roma, e licenciado em Filologia Românica e em Direito pela Universidade de Lisboa, lecionou no ensino secundário e foi leitor de Português na Universidade de Madrid. Foi diretor literário de uma editora; chefe de redação da revista Rumo; adjunto do Diretor do Serviço de Escolha de Livros do Ministério da Educação Nacional; bolseiro de investigação da Fundação Calouste Gulbenkian; tradutor de numerosos autores franceses e colaborador em várias publicações periódicas. Vítima de um edema pulmonar, a sua morte precoce, em 1978, colheu de surpresa uma série de escritores que lhe dedicam, no mesmo ano, uma Homenagem a Ruy Belo. Iniciada em 1961, mas mantendo-se, na confluência da poesia dos anos 50, equidistante quer de um dogmatismo neo-realista quer do excesso surrealista, mas incorporando aquisições dessas duas formas de comunicação estética, para António Ramos Rosa, «A poesia de Ruy Belo é uma incessante reflexão sobre o tempo e a morte e a incerta identidade do sujeito que em vão procura o lugar originário onde se encontraria o ser na sua totalidade [...]. A incerteza e uma profunda frustração, muitas vezes impregnada de uma trágica ironia, dominam esta procura do lugar ontológico e da degradação existencial». (Incisões Oblíquas, Lisboa, 1987, p. 66). Abarcando a crítica irónica da realidade social e a denúncia das diversas problemáticas que equacionam o homem, desde a sua vivência espiritual e religiosa até ao envolvimento concreto e existencial, a poesia de Ruy Belo é uma «forma de intervenção, de compromisso, de luta por um mundo melhor [...] sem [...] o poeta pactuar com a demagogia, com o oportunismo que afinal representa não ver primordialmente na arte criação de beleza, construção de objectos tanto quanto possível belos em si mesmos» («Nota do Autor» a País Possível, 1973).

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