A escolha de Portugal como pais de destino de imigrantes é um fenómeno relativamente recente que veio colocar problemas inesperados à sociedade portuguesa. Esta nova realidade aconselha a que se promovam modelos adequados e inovadores de integração e a que se desenvolvam, e se saibam manter, padrões elevados de convivência e respeito mútuo.
Atenta aos grandes problemas que afectam a nossa sociedade, a Fundação Calouste Gulbenkian, no quadro da sua intervenção na área do desenvolvimento humano, não podia deixar de apoiar a promoção da integração, suportando-se em valores de respeito pela diversidade e de promoção da coesão social.
Face à dimensão e à complexidade destes problemas, a Fundação decidiu intervir nesta área, entre outras vias, através da concepção e financiamento de um modelo inovador e demonstrativo de integração que valorizasse o contributo social, cultural e económico dos próprios imigrantes.
Assim, optou-se por promover iniciativas de apoio ao reconhecimento de habilitações e competências em áreas onde houvesse uma reconhecida carência de profissionais a nível nacional.
Foi nesta linha que surgiu, em 2002, o Projecto de Apoio ao Reconhecimento de Habilitações de Médicos Imigrantes.
Neste contexto a Fundação estabeleceu uma parceria com o Serviço Jesuíta de Apoio ao Refugiado que trouxe consigo um conhecimento substancial dos problemas com que os imigrantes se debatem no dia a dia e uma grande capacidade de contacto e de diálogo.
Em resultado deste projecto, 106 médicos imigrantes obtiveram já equivalência para as suas habilitações académicas e autorização para o exercício da medicina em Portugal. Estas mulheres e estes homens estão hoje a trabalhar no Sistema Nacional de Saúde em Portugal e, graças a esta oportunidade, puderam reiniciar as suas carreiras profissionais, interrompidas quando decidiram imigrar à procura de melhores condições de vida para si e para as suas famílias. Também nós portugueses beneficiamos, pois passamos a poder contar com o seu contributo e dedicação numa área onde continua a haver falta de profissionais.
Esta experiência, que está a ser continuada com um programa para enfermeiros e poderá incluir um novo projecto para médicos, lançou um desafio à Fundação e conferiu-lhe uma responsabilidade acrescida no que toca à promoção da inovação em processos de integração e à concertação e articulação entre as partes interessadas neste tema, sempre com o objectivo de maximizar a eficácia dos recursos mobilizados.
Por outro lado, estas iniciativas revelam também o compromisso da Fundação com a problemática das migrações e que se tem traduzido na prioridade que lhe é dado, não apenas no quadro da nossa intervenção nacional, mas também em projectos internacionais.
No programa delineado para assinalar os seus 50 anos de existência, a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu incluir um conjunto de iniciativas que se destinam a compreender a realidade da imigração e a reflectir as suas implicações na nossa sociedade e que integram o Fórum Gulbenkian Imigração. Este livro pretende ser um contributo para a compreensão da imigração aproximando, através das histórias pessoais aqui relatadas, os imigrantes dos portugueses. Portugueses que, ao longo de toda a nossa história têm sido, também eles, protagonistas de experiências semelhantes e que, melhor do que ninguém, as podem avaliar e sentir solidariamente.
Agradeço ao Ricardo Dias Felner ter aceite o desafio de escrever este testemunho sobre a aventura e a coragem de mulheres e de homens que tudo deixaram e que, algo inesperadamente, contra todas as probabilidades e todas as expectativas, beneficiaram da oportunidade de em Portugal exercer, legal e dignamente, a profissão para que se prepararam nos seus países de origem.

Emílio Rui Vilar