Uma estrela é uma estrela, Paulo é uma constelação xxx.

Desde que cá chegámos que as coisas não estão lá muito bem. Achámos que íamos viver o «Sonho Americano». Só que não. Enquanto escrevo estas pequenas frases, vou-me lembrando de coisas que aconteceram durante a minha vida e sinto-me numa espiral decadente e abismal. Estou mesmo muito mal. Preciso de parar de escrever por um momento…

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Antes de vir para Nova Iorque, passei uma temporada em Portugal. Pouco mais de um ano. Terminei o ensino médio em Espanha e em Lisboa estava a ambientar-me. Comecei a fazer alguns trabalhos de moda, publicidade, trabalhei numa discográfica e conheci muita gente. Apaixonei-me várias vezes. A minha família ainda não sabe que sou queer. Neste momento identifico-me como sendo gay, mas acho que ninguém é apenas uma coisa.

Como estamos neste limbo americano, disse à minha mãe que queria voltar para Lisboa para cumprir um contrato que tenho com uma agência de modelos. Ela ficou chateada. Disse-me: «Não se pode confiar em ninguém». E a verdade é que menti. Só quero ir-me embora daqui. Não estou cá a fazer nada.

[Paulo Pascoal]

Aos 18 anos, Paulo Pascoal arranca com um diário em Nova Iorque. Este documento, escrito há mais de duas décadas, acompanha o ano de uma vida que temos o privilégio de ler em diferido como se estivéssemos em directo. Num momento que é feito de vários tempos, vive-se com corpos em construção, sempre com a inocência do presente e do agora, sem os filtros que a distância inevitavelmente impõe. Este livro é um pedaço de biografia que não é a de Paulo apenas, mas de uma família plural, múltipla e imprevisível, de um país que são várias cidades em diferentes tempos. É uma descrição de liberdade em construção. Que vida!

[dxs Editorxs]